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Jornalista revela em palestra bastidores de livro sobre governo Bolsonaro

Responsável por uma das mais importantes reportagens do recente período eleitoral, a jornalista Juliana Dal Piva fez nesta segunda-feira (31/10) uma palestra a convite do professor Chico Otavio, do curso de Jornalismo da PUC-Rio. Aos 36 anos, ela foi responsável ao publicar, com o colega Thiago Herdy, no UOL, a matéria que constatou que cerca da metade do patrimônio imobiliário da família Bolsonaro foi adquirida em dinheiro vivo. Durante o encontro, Juliana debateu com os alunos o processo de apuração que resultou em seu livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", que acaba de ser lançado. 

Em sua palestra, Juliana trocou recordações de trabalhos realizados em conjunto com Chico Otavio durante sua passagem pelo jornal O Globo, em especial aqueles em torno das investigações a respeito da atuação da família do presidente Jair Bolsonaro, com ênfase na movimentação de funcionários nos gabinetes dele e dos filhos. Além do relato de diferentes casos, a jornalista aproveitou para explicar aos estudantes princípios de sua atuação profissional.  

Catarinense criada em Chapecó, Juliana deslanchou na profissão ao chegar ao Rio de Janeiro, em 2011, quando começou a trabalhar em O Globo. Foi um momento de transformações políticas no país, com a emergência de correntes que até então eram minoritárias. No campo profissional, ela percebeu a importância de investir nas próprias pautas e na necessidade de defendê-las enfaticamente diante de seus chefes. Além disso, Juliana Dal Piva procurou demonstrar aos futuros jornalistas a importância da persistência para se chegar a um resultado de qualidade no fim do processo de apuração. Na opinião da jornalista, isso inclui a postura profissional que, em sua avaliação, deve priorizar o diálogo com suas fontes sem recorrer a julgamentos prévios. 

Mesmo assim, Juliana reconhece que é difícil manter a imparcialidade em coberturas como a das eleições, “pois todos possuem suas subjetividades, o que torna necessário trabalhar o equilíbrio”. Mas a jornalista admite que não existem limites à imparcialidade, como nos casos de crimes e ataques ao regime democrático. 

“Nós não podemos ser ativistas, mas não podemos nos silenciar em relação ao fascismo, por exemplo. Temos que ter preocupação na busca do equilíbrio, o que nos faz errar menos e acertar mais. Mas é um processo muito difícil", admite. 

Quanto ao contexto dos últimos anos, marcado pela desinformação como estratégica política, Juliana Dal Piva tem uma posição clara: 

“A liberdade de expressão no Brasil não abarca discurso de ódio. Diante disso, não há direito de promover machismo, fascismo e homofobia, por exemplo. É de grande importância relembrar que os direitos não são absolutos e têm que convergir dentro de um estado democrático”. 

Na palestra, Juliana Dal Piva aproveiou para homenagear especialmente o trabalho de algumas de suas colegas jornalistas. Ela destacou que a apuração em torno do clã Bolsonaro foi realizada por muitas mulheres, de diferentes veículos. Como resposta, receberam ofensas e ameaças, mas reagiram sempre de cabeça erguida. Aos alunos em geral, a jornalista fez uma saudação: 

"Bem-vindos à luta". 

Além dos alunos, a palestra contou com a presença e participação de outros professores do Departamento de Comunicação, que em diferentes momentos trocaram impressões com a convidada e o colega Chico Otavio.


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