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Uma terna unanimidade nas redações e salas de aula

Poucas figuras amealharam tamanha unanimidade nas redações e salas de aula quanto Angela do Rego Monteiro. O equilíbrio entre o rigor profissional e uma ternura bem-humorada ecoa no tratamento uníssono de colegas e estudantes: “uma querida”. Assim logo é lembrada nas rodas de conversa. Quase um chamado, desejo de tê-la ali, afiando a prosa. Angela era um ótimo papo. Política, moda, cultura, abobrinhas e, claro, o Fluminense do coração.

Por acaso, ou não, fixou-se em Laranjeiras e o clube virou, como ela dizia, o quintal da família. Talvez por isso vivesse de bom humor. Agradecidos, o Fluminense, as redações, a Educação despedem-se de Angela, levada nesta terça (11), aos 78 anos, por complicações pulmonares decorrentes de uma queda.

A alma e o ofício jornalísticos alimentavam uma verve poderosa. Nela esculpiu outra marca decalcada nos trilhos profissionais: afeto. Por onde passava, do Globo aos pilotis, Angela distribuía boas histórias e afeto, lembra a professora Bruna Aucar, ex-colega de PUC-Rio:

– A trajetória dela foi marcada pelo afeto. Era uma grande inspiração aos alunos. Vibrava com cada conquista. Ajudou a encaminhar muitas carreiras. Essa generosidade também se estendia a professores e funcionários, os quais ela acolhia e divertia com suas intrigantes histórias do jornalismo.

A repórter Camila Zarur, do Globo, foi uma das incontáveis vocações douradas por Angela na PUC-Rio. A professora impulsionava constantemente decolagens profissionais:

– Ela me deu uma lição que guardo no jornalismo e na vida: “Na dúvida, vai com confiança”. Ela disse isso ao contar um caso da época em que ainda era foca (iniciante) no jornal e a mandaram para rua pela primeira vez, entrevistar algum famoso. Sem querer fazer feio na primeira grande oportunidade, reuniu toda a confiança e fez bonito. Ouvi essa história no primeiro período da faculdade. É dessas lições que não estão nos livros nem nos artigos acadêmicos. Só uma professora com um coração tão grande pode dar – ressalta Camila – Angela ainda me ajudou a conseguir o primeiro estágio. Serei eternamente grata. Sua partida deixa uma enorme saudade – completa.

Desde que chegara à PUC-Rio, em 2002, convidada pelo professor Cesar Romero, ex-diretor do Departamento de Comunicação, Angela colecionou reconhecimentos assim, inclusive dos demais professores e funcionários. O entusiasmo e os casos dedicados ao jornalismo encantavam até estudantes de Publicidade e Cinema. Alguns chegavam a cogitar uma mudança de curso, recorda o também ex-aluno Filipe Canto, publicitário da agência Sides:

–  Angela amava o que fazia. Tinha um cuidado com os alunos como se fôssemos filhos. Sempre nos recebia em sala com um sorriso enorme, e conseguia passar seu amor pelo jornalismo a ponto de alunos pensarem em mudar de curso. Ela está na lista dos inesquecíveis, tanto no lado profissional quanto pessoal.

A experiência acumulada em cargos como os de editora de moda da Bloch e do antigo caderno Ela, do Globo, convertia-se num jardim de histórias ao mesmo tempo palpitantes e pedagógicas. Várias delas, não raramente hilárias, eram compartilhadas também com os colegas. Alegravam os cafés. “Não dava vontade de sair de perto”, sintetiza o professor Célio Campos:

– Amiga, generosa, querida por todos os alunos e professores. Sempre alegre, bom papo e de uma inteligência que não dava vontade de sair de perto das conversas com ela. Sempre disposta a ajudar quem quer que fosse. Deixou um legado aos alunos, e deixa saudades. Não é difícil falar da Angela. Difícil é constatar que não a teremos mais entre nós. Tempos cada vez mais difíceis.

Angela era mesmo a antítese do baixo astral, dos dias pesados. Transbordava leveza. Tinha outra virtude não menos importante nos tempos bicudos: fraternidade.

– Era uma colega querida, amiga e parceira – resume a professora Letícia Hees – Uma profissional apaixonada, sempre disposta a buscar oportunidades para seus alunos. Deixa uma saudade enorme, um vazio no coração da gente.

Apaixonada e apaixonante, Angela despertava sorrisos pelos corredores do Departamento de Comunicação. “Sempre muito gentil e divertida”, recorda a secretária Valéria Pessanha. Ela acrescenta:

– Uma pessoa que se importava de verdade. Sempre sabia o nome dos nossos filhos, coisas da nossa vida, sempre procurava ajudar. Por exemplo, quando um funcionário soube que seria pai de gêmeos, ela fez uma campanha para arrecadar enxoval para os bebês, e ainda deu os berços de presente. Era muito generosa, muito carinhosa.

Igualmente generoso era o repertório de casos que Angela levava a tiracolo. Nem Sinatra ficava fora:

– Uma vez Angela me disse que tinha aprendido inglês cantando as músicas do Frank Sinatra. Ela adorava o Frank Sinatra. Sabia todas as músicas dele. Chegou até a cantar uns trechos pra mim – conta Valéria.

Mesmo sem cantar, Angela irradiava musicalidade.


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