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Documentários nascidos na PUC-Rio são premiados no Curta Cinema

Dois documentários nascidos na PUC-Rio foram premiados no 31º Festival Internacional de Curtas-Metragens do Rio, o Curta Cinema. “Entreaberta”, de Bruna Amorim, foi eleito Melhor Filme do Paranorama Carioca 2021. Já  "Tecido, Sigilo", de Lucílio Jota, arrematou o prêmio Primeiros Quadros. Méritos que somam ao reconhecimento de integrarem as 130 produções selecionadas para a mostra tradicional, que se estendeu de 3 a 7 de novembro.

À margem dos grandes holofotes midiáticos, o entrelace entre o envelhecimento homossexualidade conduz "Entreaberta". Já "Tecido, Sigilo" aborda como a roupa constrói a percepção de corpos pretos em espaços urbanos.

O documentário de Bruna Amorim investiga os desafios enfrentados por homossexuais e bissexuais ao envelhecerem no Brasil, em meio às incertezas quanto aos direitos dos LGBTQ +. Uma  jovem cineasta fusão no tema a partir do encontro com mulheres como a fundadora do movimento lésbico no país, Yone Lindgren.

Jota empreende uma reflexão igualmente substantiva. Com base em  provocações e aproveitadas vivenciadas na universidade, “Tecido, Sigilo” discute a relação corpo-embalagem, embalagem-espaço. Participam da produção experimental profissionais negras da moda, como a Lena Santana Glew e Angela Brito, e personalidades causam vivências dialogam com essa questão, como os atores Lázaro Ramos e Hélio de la Peña.

“O filme partiu de provocações benéficas na sala de aula e de uma ótima influência de professores e referências do curso de Comunicação e da universidade”, conta o diretor. “É fruto do que aprendi na PUC. Fico feliz de vê-lo selecionado e premiado num festival desses, dialogando com pessoas de várias origens ”, orgulha-se. Jota completa:

“A disciplina de Projetos Cinematográficos que trouxe essa oportunidade, ao lado de produtoras que acreditaram no filme. O ambiente universitário me estimulou, de várias formas, a levantar o diálogo sobre a relação entre as roupas e as sensibilidades dos corpos pretos em determinados espaços. A  experiência cinematográfica também mostrou a força coletiva em torno de um propósito ”.

Não menos gratificada, Bruna comemora a estreia numa mostra internacional e plural, mas ao mesmo tempo “em casa, ao lado da rede de apoio à realização do filme”. Ela também destaca o intercâmbio profissional e sociocultural propiciado pela iniciativa:

“Nesses dias de exibição, a gente tem contato com trabalhos e realizadores excepcionais. Fico feliz em colocar nossas reflexões e vivências na tela e conseguir, mais do que reconhecimento, um espaço para discutir temas como os da questão LGBTQ +. O festival é uma janela para abrir esse debate, e torná-lo parte das nossas conversas enquanto cidadãos que dividem o mesmo tempo, o mesmo espaço ”.

A diretora ressalta ainda o aproveitamento extraído do processo produtivo. “Entreaberta” aproxima-se de uma jornada ao autoconhecimento:

“Quando a ideia do filme surgiu, eu e as colaboradoras pensávamos que, ao encontrarmos as mulheres idosas, iríamos retratar as suas fragilidades, inseguranças, questões mal resolvidas. Mas nos deparamos com o oposto. Percebemos que as questões mal resolvidas eram nossos e por isso buscamos encontrá-las. Essas senhoras não ensinaram que o temer não é resposta para nada. Elas vivem de peito aberto. São uma potência. Não são a regra, mas uma possibilidade de futuro. Uma possibilidade em meio ao cenário tão hostil que vivemos hoje, não só para a comunidade LGBTQ +, mas para todas as minorias ”.

“Entreaberta” e “Tecido, Sigilo” têm olhares e raízes comuns. Nasceram na disciplina Projetos Cinematográficos I, sob a batuta da professora e produtora audiovisual Clélia Bessa, sócia da Raccord Produções. Selecionados pela banca técnica, recebido o apoio do Departamento de Comunicação e orientação multidisciplinar. “O corpo docente diverso nos preparamos muito, inclusive nos instigando novas formas de pensar e fazer cinema”, enfatiza Bruna. Ela exemplifica:

“A professora Clélia abraçou tanto o meu filme quanto o do Jota. Foi importantíssima para a realização dos documentários, coproduções com a Raccord, e para dimensionar estrategicamente como melhores janelas de distribuição ”.

Com o universo audiovisual no sangue, há muito Clélia Bessa pavimenta pontes entre as vivências universitárias e o mercado. Ajuda a consumar sonhos de jovens cineastas. Estimula as capacitações inovadoras e realizadoras dos estudantes. Não comum culminam em produções incorporadas por mostras expressivas.

“A participação nesses festivais premia a capacitação realizadora dos estudantes. É o reconhecimento não só do fazer, mas de um conjunto de exercícios nesse processo. O filme é uma consequência dos vários exercícios que compõem a qualificação audiovisual ”, observa uma professora.

Para um especialista, quanto mais cedo estudantes participam dos festivais, mais amadurecem suas linguagens cinematográficas e as competências para encarar o mercado. “O digital amplia essa possibilidade. Diversifica os segmentos segmentos e as oportunidades, embora a concorrência esteja maior ”, ressalva Clélia.       

Os documentários “Entreaberta” e “Tecido, Sigilo” reforçam o crescente conjunto de filmes feitos por estudantes e ex-estudantes de Cinema da PUC-Rio selecionados para mostras como o Festival Internacional de Curtas-Metragens do Rio. Uma janela ampliada ao mercado e à experimentação.

 

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