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Jovens recontam a história da Rocinha em oficinas de quadrinhos

A história e as histórias da Rocinha ganham o universo dos quadrinhos. Agora também são contadas, ou recontadas, por jovens da comunidade participantes do Núcleo de Estudo e Ação sobre o Menor da PUC-Rio (NEAM). Eles concluíram, em julho, a oficina do cartunista Miguel Mendes, o Mig, parceiro do legendário do Ziraldo, doutor em Comunicação pela PUC-Rio.

A iniciativa conjunta com os Departamentos de Comunicação e História integra os programas de extensão universitária. Deriva do projeto de pesquisa Narrativas da Vida Moderna na Cultura Midiática. Mig destaca o valor social e profissional que essas experiências agregam aos alunos:

“Os jovens percebem que fazer quadrinhos também pode ser um processo profissional. Com a prática, eles compreendem também que esta linguagem é uma forma de se expressarem”. 

A oficina transportou Hugo Soares de Oliveira e Ana Júlia Paiva para a infância. O hábito de desenhar adquiriu uma nova perspectiva com as aulas de Mig. “Vão reverberar por toda a minha vida”, anima-se Hugo. Ele projeta ensinar aos futuros filhos os ensinamentos recebidos.

Já a estudante de Administração da PUC-Rio Mirela Zanon, estagiária do NEAM, pretende aplicar as técnicas narrativas aprendidas para enriquecer as linguagens desenvolvidas na vida profissional:

“Principalmente na criação de textos, em como eu me comunico com as pessoas”, prevê. Ela completa:

“Mig é um professor muito paciente. Tem uma ótima didática. É descomplicado”.

Quadrinista e cartunista há mais de 30 anos, desde quando estudava Jornalismo na PUC-Rio, Mig retribui: “Os jovens assistidos pelo NEAM têm uma boa vontade em trabalhar para além da curiosidade que motiva a participação dos alunos”.

O NEAM desenvolve, há 40 anos, um trabalho de extensão universitária voltado a acolher e promover a formação técnica de jovens desprovidos de oportunidades socioeconômicas. Em parceria com os departamentos de Comunicação e História, o Núcleo promoveu mais duas oficinas na Rocinha além da relacionada aos quadrinhos.

A ideia da oficina de quadrinhos nasceu da professora Alessandra Cruz, do Departamento de Comunicação, e do próprio Mig, a partir da aproximação entre a Universidade e as dinâmicas comunitárias. Alessandra pesquisava, no mestrado, o uso do audiovisual como suporte para o Museu Sankofa, Memória e História da Rocinha. Mig carregava a bagagem de uma oficina de quadrinhos na Maré.

Ambos faziam parte do grupo de pesquisa Narrativas da Vida Moderna na Cultura Midiática, coordenado pela professora Tatiana Siciliano, também diretora do Departamento, dedicado a analisar desde quadrinhos a folhetins a produções audiovisuais e ficções seriadas. Tatiana logo acolheu a proposta, cuja execução foi adiada pela pandemia.

“Coincidiu com a PUC-Rio ter acabado de lançar, por meio do Instituto de Humanidades, um edital para fomentar projetos de grupos de pesquisa. Então, juntei a proposta do Mig ao meu trabalho com as memórias da periferia, conversei com a Tati, e a gente buscou o apoio do Departamento de História e do Instituto Interdisciplinar de Leitura da PUC-Rio (iiLer)”, conta Alessandra.

Além de contribuir para a produção de conhecimento e a capacitação profissional, o ciclo de oficinas reforça o histórico relacionamento da universidade com o público jovem periférico, principalmente da Rocinha e do Parque da Cidade, por meio de iniciativas associadas a ensino, pesquisa e extensão. Mig considera a extensão universitária “parte do esforço de formação de docentes que mostra à sociedade o valor do trabalho acadêmico, tanto institucional quanto individualmente”.

Não menos importante é a contribuição das oficinas, e ações congêneres, para enriquecer e expandir as narrativas como fontes para a construção de conhecimentos e identidades que se desprendam dos discursos dominantes, oficiais, naturalizados na sociedade. Tatiana ressalta:

“As narrativas têm um papel fundamental para que as pessoas saibam quem são, o que fazem, o seu lugar no mundo. Articular memória e território para construir narrativas da própria realidade oferece uma oportunidade também para a academia incluir outras perspectivas mais periféricas na construção coletiva de conhecimento.”

Mig observa que o compromisso dos jovens em participar das atividades de extensão universitária expressa “a importância de mostrar a eles como a formação em nível superior é uma possibilidade viável para o futuro, estimulando o hábito às práticas acadêmicas e, portanto, a compreensão de si próprios como parte de uma comunidade do conhecimento”. Alessandra acrescenta:

“O objetivo [desta oficina] é que eles possam contar a história da Rocinha do ponto de vista deles. Nas entrevistas para a minha dissertação de mestrado, o Fernando Ermiro, um dos coordenadores do museu (Sankofa), disse que a história da Rocinha só é contada nas páginas policiais da imprensa ou nos boletins de ocorrência da polícia. Esse projeto traz a possibilidade de termos uma outra história da Rocinha, muitas vezes invisibilizada: as histórias do cotidiano, dos moradores que temiam a tuberculose e ganharam uma esperança com a construção dos prédios, da ONG que cuida dos gatos, do Largo do Boiadeiro, a história de uma porca chamada Beth, que circula pela favela e é conhecida por todos. Essas histórias e memórias do cotidiano vão virar narrativa histórica na mão desses adolescentes. O importante é isso: dar outra visibilidade a esse território”.

 


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